Um dia um velho que tinha fama de ser um homem muito sábio me contou a
história de duas famílias que viviam muito bem e de forma bem parecida, porém longe
e sem saber da existência uma da outra. Viviam em pequenos ranchos, isolados
dos problemas da vida moderna. Evitavam se misturar com as pessoas da vila mais
próxima como qualquer pessoa evitaria um parasita. A única fonte de renda e alimentação das duas
famílias vinha de duas vaquinhas. Cada família possuía um animal, o qual fornecia
leite e queijo durante todo o ano.
Um dia o filho mais velho de uma das famílias levou o animal além das
montanhas, para a vila. Quando voltou, com algumas ferramentas, sementes e certa
quantia em dinheiro, mas nenhuma vaca provocou a revolta de seus pais e irmãos.
A vaca, sua única fonte de renda e sustento, tinha sido vendida. E nem por
tanto dinheiro assim.
"Como vamos viver?" - indagou o pai. "Esperem e
verão", respondeu o jovem rapaz.
Sem a fonte de renda, a família se viu obrigada a mudar seus hábitos.
Imediatamente dividiu sua rotina em novas atividades, que incluíam preparação
da terra com as novas ferramentas, o cultivo das sementes compradas e a
aplicação do resto do dinheiro em três galinhas, um galo e um pequeno porco.
O tempo passou e as sementes geraram um campo inteiro de plantas que
por sua vez geraram muitas outras sementes. As galinhas deram ovos e geraram
outras galinhas. O porco cresceu e engordou.
Todos alimentados pelas sementes e plantas colhidas no pequeno rancho. Para
vender as sementes, ovos extras e o porco, a família desenvolveu o hábito de se
deslocar até a vila. Lá, descobriram que as crianças mais novas poderiam ir até
a escola mantida pela igreja, sem custo algum. Por lá também fizeram muitos
amigos, que os mostraram novas atividades. O pai aprendeu a atividade de
marceneiro e começou a trabalhar numa serraria as sextas-feiras. A mãe desenvolveu
o hábito de ajudar os pobres nos fins de semana de caridade organizados pela
igreja. Já o jovem rapaz terminou de aprender a contar e ler e ganhou um
estágio na firma de corretagem da cidade.
Enquanto isso, a outra família, que ainda vivia da renda gerada pela
vaca, aguardava. Até um dia fatídico, quando uma tremenda nevasca atingiu a
região e matou o pasto e a vaca. Sem ter o que comer, a família se viu obrigada
a sair em busca de auxílio na vila que por muito tempo evitou. Mas nunca
chegaram até o destino. O frio era tão intenso que matou a família inteira no
meio do caminho longínquo entre sua terra e a cidade. Ninguém nunca os encontraria. Ninguém nunca
saberia que existiram.
Já a família que vendeu a vaca, havia salvado muitos recursos pra
nevasca da qual já haviam ouvido há muito tempo, no trabalho do pai as sextas,
na escola dos filhos e de novo na igreja que frequentavam aos finais de semana.
Já sabiam que era inevitável. Estavam preparados.
Quando o velho terminou de contar a história, não pude evitar sentir
tristeza pelo terrível fim da família na estrada. Mas havia entendido a
mensagem e confirmado os rumores. Aquele senhor era realmente um homem muito
sábio.
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